1. O Determinismo Universal Causal e Divino não pode oferecer uma interpretação coerente da Escritura. Os teólogos Reformados clássicos reconhecem tal fato. Eles admitem que a reconciliação de textos escriturísticos que afirmam a liberdade humana e contingência com textos que afirmam a soberania divina é inescrutável. D.A. Carson identifica nove correntes de textos que afirmam a liberdade humana: (1) As pessoas enfrentam uma série de exortações divinas e comandos, (2) as pessoas são orientadas a obedecer, acreditar, e escolher a Deus, (3) as pessoas pecam e se rebelam contra Deus, ( 4) os pecados das pessoas são julgados por Deus, (5) as pessoas são testadas por Deus, (6) as pessoas recebem recompensas divinas, (7) os eleitos são responsáveis por responder à iniciativa de Deus, (8) orações não são meros exemplos roteirizados por Deus e (9) Deus literalmente implora que os pecadores se arrependam e sejam salvos (Divine Sovereignty and Human Responsibility: Biblical Perspectives in Tension, pp. 18-22). Essas passagens descartam uma compreensão determinista da providência divina, o que impediria a liberdade humana. Deterministas reconciliam o determinismo universal causal divino com a liberdade humana re-interpretando a liberdade em termos compatibilistas. Compatibilismo exige o determinismo, então não há nenhum mistério aqui. O problema é que a adoção de compatibilismo alcança a reconciliação somente à custa de negar o que vários textos bíblicos parecem claramente afirmar: indeterminação genuína e contingência.
2. O Determinismo Universal Causal não pode ser racionalmente afirmado. Há uma espécie de desequilíbrio, uma característica auto-destrutiva para o determinismo. Pois, se alguém passa a acreditar que o determinismo é verdadeiro, precisa aceitar que a razão pela qual ele passou a acreditar é simplesmente que ele estava determinado a fazê-lo. Ele não foi, de fato, capaz de pesar os argumentos prós e contras e livremente tomar uma decisão sobre esta base. A diferença entre a pessoa que pesa os argumentos a favor do determinismo e os rejeita, e a pessoa que pesa e os aceita, é unicamente que uma foi determinada por fatores causais fora de si mesma a acreditar e a outra a não acreditar. Quando você vier a perceber que sua própria decisão de acreditar no determinismo foi determinada e que, até mesmo sua percepção presente desse fato agora é igualmente determinada, uma espécie de confusão se inicia, por tudo o que você pensa, mesmo este próprio pensamento, está fora de seu controle. O determinismo poderia ser verdadeiro; mas é muito difícil ver como isso poderia ser racionalmente afirmado, desde que sua afirmação prejudica a racionalidade da sua sustentação.
3. O Determinismo Universal Divino faz de Deus o autor do pecado e impede a responsabilidade humana. Na visão determinista até o movimento da vontade humana é causado por Deus. Deus move as pessoas a escolherem o mal, e eles não podem fazer o contrário. Deus determina suas escolhas e os faz cometer injustiças. Se é mau constranger outra pessoa a fazer o mal, então, sob esta visão, Deus não é apenas a causa do pecado e do mal, mas torna-se o próprio mal, o que é absurdo. Da mesma forma, toda a responsabilidade humana pelo pecado foi removida, pois, nossas escolhas não são realmente de nossas: Deus nos leva a fazê-las. Nós não podemos ser responsáveis por nossas ações, pois nada daquilo que pensamos ou fazemos é realizado por nós.
4. O Determinismo Universal Divino anula a agencia humana. Desde que nossas escolhas não dependem de nós, mas são causadas por Deus, os seres humanos não podem ser definidos como agentes reais. Eles são meros instrumentos, por meio dos quais Deus age para produzir algum efeito, a exemplo de um homem que usa uma vara para mover uma pedra. É claro, as causas secundárias mantém todas as suas propriedades e poderes como causas intermediárias, como os teólogos Reformados nos fazem lembrar, a exemplo de um pedaço de pau que conserva as suas propriedades e poderes que o tornam adequado para os fins de quem o usa. Pensadores Reformados não precisam ser ocasionalistas como Nicholas Malebranche, o qual declarou que Deus é a única causa que existe. Mas estas causas intermediárias não são agentes em si, mas meras causas instrumentais, pois elas não têm poder para iniciar a ação. Por isso, é duvidoso que no determinismo divino realmente há mais de um agente no mundo, ou seja, Deus. Esta conclusão não só impõe-se claramente diante do nosso conhecimento de nós mesmos como agentes, mas torna inexplicável por que Deus, então, trata-nos como agentes, mantendo-nos responsáveis por aquilo que Ele nos fez e nos usou para fazer.
5. O Determinismo Universal Divino torna a realidade uma farsa. Na visão determinista, o mundo inteiro se torna um espetáculo vão e vazio. Não há agentes livres em rebelião contra Deus, a quem Deus procura ganhar através do Seu amor, e ninguém que livremente responda a esse amor e retribua livremente com amor e louvor. O espetáculo todo é uma farsa, cujo único ator de verdade é o próprio Deus. Eu estou convencido de que a visão determinista, longe de glorificar a Deus, denigre Sua imagem para se engajar em uma charada absurda. É profundamente insultante a Deus pensar que Ele criaria seres que são em todos os aspectos causalmente determinados por Ele e então tratá-los como se fossem agentes livres, punindo-os pelas ações erradas que Ele mesmo os determinou a fazer ou amando-os como se fossem agentes que responderiam livremente. Deus seria como uma criança que estabelece seus soldados de brinquedo e move-os sobre o seu mundo de brincadeira, fingindo que eles são pessoas reais, cujo cada movimento não é de fato de seu próprio agir, e fingindo que eles merecem louvor ou culpa. Estou certo de que os deterministas Reformados, em contraste com teólogos clássicos Reformados, arrepiar-se-ão com tal comparação. Mas não vejo onde essa comparação possa ser inadequada.
Autor: Willian Lane Craig – Tradução: Samuel Paulo Coutinho
Trecho extraído de: http://www.reasonablefaith.org/