Ezequiel 18.21-23 e 30b-32
Deus, pelo profeta Ezequiel no cap. 18, nos mostra que cada pessoa que peca é pessoalmente responsável pelos seus atos. Sofre ele mesmo as consequências de seus próprios pecados. O povo de Israel, na época do profeta Ezequiel, acreditava no provérbio: “Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos estão embotados!” Consideram-se justos diante de homens e de Deus. O que sofriam e o que por Deus lhes era imposto, isto, diziam, nos sobrevém por causa da culpa de nossos pais. Consideravam-se inocentes de toda culpa e julgavam injusto o procedimento de Deus para com eles.
Isto ainda hoje é assim entre os homens. A nossa tendência natural é achar sempre a culpa nos outros. Deus, porém, quer um coração contrito que vê a sua própria culpa e que se arrepende. Por esta razão também Jeremias (31.29 e 32.18) combate a falsa interpretação de Ex.20:5. Deus visita a maldade dos pais nos filhos somente no caso de estes seguirem aos seus pais na mesma iniquidade.
A alma que pecar, esta morrerá. Isto mostra o profeta, descrevendo o injusto. Mas o justo que o profeta retrata, este viverá, não porque os pais deste tenham sido justos ou pecadores, mas sim porque ele foi o que foi.
v. 21: “Mas se o ímpio (perverso) se converter de todos os seus pecados que cometeu, e guardar (observar) todos os meus estatutos (todas as minhas leis) e fizer (exercer) retidão (o reto) e justiça, certamente viverá (“viver” viverá) e não morrerá (não será morto).”
Neste versículo o profeta anuncia a graça de Deus — a quem? Ao pecador que se arrepende. O mesmo ímpio, perverso, que foi descrito em versículos anteriores, este mesmo é salvo da graça de Deus, se ele “se converter de todos os seus pecados que cometeu”. Deus em sua misericórdia não levará em conta os seus pecados anteriores.
Estes estão lavados. Deus somente exige um coração contrito e arrependido que agora, em nova vida, guarde todos os seus estatutos e faça retidão e justiça, que agora pratique atos de justiça e viva de acordo com a vontade de Deus. Deus para tanto lhe concederá forças.
Antes, vivendo o homem em pecado, havia somente uma sentença — e esta sentença é irredutível, e sentença do justo Deus: “A alma que pecar morrerá!” Agora a sentença já não é mais ditada por dura lei. Deus a passa para seu doce Evangelho, que, por amor a seu Filho, é dom gratuito a todos os homens. Agora o profeta diz: “Certamente viverá e não morrerá!” Isto equivale a um juramento de Deus. É uma promessa segura que chama o pecador ao arrependimento, dando-lhe nova vida ao se arrepender.
v. 22 “Todas suas transgressões (nenhum dos pecados) que cometeu não lhe serão lembradas (de todas as transgressões que cometeu não haverá lembrança contra ele); pela justiça que praticou viverá.”
Deus não tem prazer na morte do ímpio, do perverso. A vontade de Deus é que todos se salvem (I Tm 2.4), que todos vivam, que todos se arrependam. Deus criou os homens justos e sem pecado. Queria que escolhessem o bem e vivessem para sempre com ele em bem-aventurança. Mas os homens escolheram o outro caminho, desobedeceram a Deus e caíram em pecado, e pecado significa morte. Os homens estavam condenados. Diante da justiça divina não poderia haver outra sentença. Deus, no entanto, em seu infinito amor para com os homens, não querendo que eles morressem, lhes enviou o seu Filho para salvá-los do pecado e da morte. – A maioria dos homens, no entanto, não quer saber de salvação e rejeita a graciosa mão de Deus. A verdade fundamental de toda Palavra inspirada, dada por
Deus aos homens para salvação é mostrar o amor de Deus para com os homens e sua prontidão em aceitar de volta o pecador perdido que reconhece a sua falta e que se arrepende. Deus não pode desejar a morte do homem, de nenhum homem, também não do mais perverso, pois todos eram perversos.
v. 23 “Porventura (acaso) tenho eu prazer na morte do perverso? diz o Senhor Deus; não desejo eu antes que ele se converta dos seus caminhos e viva?”
Este versículo expressa esta verdade consoladora vigorosamente por meio de uma pergunta retórica que contém a resposta em si mesma. Continua perguntando mais uma vez: “não desejo eu antes que ele se converta dos seus caminhos e viva?” Este é o mais profundo desejo de Deus expresso em toda a Bíblia, e quem o diz é o próprio Senhor Deus!
Ezequiel em 18.32 e 33, 11 repete: “Não tenho prazer na morte do ímpio, mas sim que o ímpio se converta e viva.” Este é o plano de Deus desde a eternidade. Quão consolador é este capítulo 18 para o crente por sempre de novo o profeta anunciar a graça de Deus!
v. 30(b) “Convertei-vos e desviai-vos (voltai e convertei-vos) de todas as vossas transgressões e (para que) não vos sirva a transgressão (iniquidade) de tropeço (pedra de tropeço).”
O profeta mostra que também aquele que se converteu, deve cuidar para permanecer agora na nova vida e não cair novamente em pecados, pois sua sorte então seria pior do que antes. O ímpio que se converte e fica no caminho reto, todo aquele que permanecer na justiça, viverá. Deus virá para julgar cada um conforme o seu caminho, não conforme o caminho, a vida, de seus antepassados ou amigos; ele mesmo é responsável por seus atos. No v. 30, o profeta mais uma vez conclama ao arrependimento: “converter e voltar”, deixar de ir numa direção, mudar completamente o rumo da vida. Temos aqui duas vezes o mesmo verbo shûb: converter-se, voltar, desviar-se. Devemos afastar-nos de todas as iniqüidades e transgressões. São formas do imperativo. Querem impelir o que se acha desviado para o arrependimento. Pois permanecer no pecado é fatal; então só haverá morte. Mas esta não está de acordo com o desejo de Deus. O que o homem necessita é um novo coração e um novo espírito que, como vemos no mesmo profeta em 11:19, é dom de Deus: “Dar-lhes-ei um só coração, espírito novo porei dentro neles; tirarei da sua carne o coração de pedra, e lhes darei coração de carne!”
O homem deve aceitar este dom divino e não endurecer o seu coração, rejeitando-o. “Para que a iniquidade não seja a vossa ruína.” A transgressão sem arrependimento só pode causar morte. “Tropeço” ou “pedra de tropeço” é aquilo que faz com que o homem não chegue à vida.
v. 31 “Lançai de vós todas as vossas transgressões com que pecastes, e criai em vós um novo coração e um novo espírito, pois (e) por que quereis morrer (por que morrereis), ó casa de Israel?”
O profeta repete o que disse no versículo anterior com mais força e ênfase. “Lançar” implica em força, violência. Só com energia, só com o auxilio de Deus pode o homem lançar de si as transgressões. Deus quer ajudar ao pecador. Se este não rejeitar o Evangelho, terá forças para lançar de si os pecados. Deus os tirará dele. Não é o homem que aniquila os seus pecados. Ele só pode arrepender-se, pedir perdão e confiar em seu Salvador, e todos os seus pecados estarão perdoados como vemos já no v. 22.
“E criai em vós um novo coração e um novo espírito.” – Se o homem se arrepende e aceita a Deus, terá um novo coração e um novo espírito. É Deus quem lhe confere isto (cL 11.19 e SI 51.10 sgs). Assim o arrependido, aquele que se converteu, que lançou de si as suas transgressões, terá uma nova vida, a vida que podemos pedir de Deus em oração e a qual ele operará em nós pelo seu Espírito Santo.
“Pois por que quereis morrer, ó casa de Israel?” Novamente o profeta faz uma pergunta retórica. Se o povo não se arrepende é porque o mesmo quer morrer. Deus certamente não deseja a sua morte. Isto nos afirma mais uma vez.
v. 32 “Porque não tenho prazer na morte do que morre (do que deve morrer; de ninguém), diz o Senhor Deus. Por isso (portanto): convertei-vos e vivei (e vivereis)!”
Deus não tem prazer na morte daquele que não se converteu e assim é um que morre, um que deve morrer — isto, porque rejeitou ele mesmo a vida. E isto quem diz não é o profeta, mas sim “o Senhor Deus”. “Portanto”, por isso “convertei-vos e vivei!”
Converter-se é viver!
No momento em que alguém é convertido, possui a nova vida que Deus lhe deu e que ninguém dele poderá tirar, a não ser ele mesmo, desprezando-a.
Que grandiosa mensagem de arrependimento e graça constitui este capítulo do profeta Ezequiel.
Hans-Gerhard Rottmann – extraído do site deusamouomundo.com em 13/01/2013