Quando perguntamos a um espírita se ele crê em vidas passadas, certamente a resposta é “sim”. Quando perguntamos se ele se lembra dessas vidas passadas, a vasta maioria responde “não”. E se perguntarmos por que ele não se lembra das vidas passadas, a resposta é aquele velho argumento: “Para eu não me lembrar dos meus erros, e isso me acompanhar por todas as minhas reencarnações.” Quanto a pequenina minoria que diz se lembrar de outras existências, quase todos viveram em cidades importantes e ocuparam cargos destacados. Nunca encontrei algum espírita que dissesse ter vivido no ano de 1500 entre os índios que aqui moravam. Talvez, depois desse artigo, talvez surjam uns dois ou três. Mas vejamos como Allan Kardec, o codificador da Doutrina Espírita, explica o que ocorre entre uma vida e outra, no que se refere ao suposto “eu esqueci”.
“Um fenômeno particular, igualmente assinalado pela observação, acompanha sempre a encarnação do Espírito. […] O Espírito perde toda a consciência de si mesmo, de sorte que ele nunca é testemunha consciente de seu nascimento. No momento em que a criança respira, o Espírito começa a recobrar suas faculdades. […] Mas ao mesmo tempo que o Espírito recobra a consciência de si mesmo, ele perde a lembrança do seu passado, sem perder as faculdades, as qualidades e as aptidões adquiridas anteriormente.” – Allan Kardec, A Gênese, página 187, 14a. Edição Revisada e Corrigida, Editora Ide.
O Espiritismo Kardecista ousa dizer que esse fenômeno é assinalado pela observação, talvez para dar o ar de científico. Todavia, isso não pode ser provado. Pura imaginação. É muito fácil ensinar a doutrina da reencarnação desta forma: Eu vivi vidas passadas, mas não me lembro de nada, para não viver magoado. Todavia, lembrar-se dos erros é um excelente modo de nos conscientizarmos de não errar mais. Se uma pessoa tivesse sido assassina numa suposta vida passada, ela teria a chance de viver novamente com a pessoa que ela assassinou, e demonstrar o seu amor por ela. Ambas se lembrariam do fato, e viveriam em amor. Entre uma vida e outra, poderiam se encontrar, receber instruções de como se perdoarem, e receberem então uma nova chance. Mas sabemos que nada disso ocorre, porque está ordenado ao homem morrer uma única vez, e depois vem o juízo. – Ler Hebreus 9:27.
Lembramos também que a Bíblia ensina-nos uma verdade lógica e facilmente aceitável sobre o que ocorre depois da morte. Ao ler esse relato, observe que ela nada diz sobre o espírito pensar em retornar para uma nova vida:
“Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles recompensa, porque a sua memória jaz no esquecimento. […] Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque no além, para onde tu vais, não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma” – Eclesiastes 9:5, 10.
O Texto afirma que os mortos (evidentemente o espírito deles) não sabem de nada, e o contexto indica que não estão cônscios do que acontece debaixo do sol, ou seja, dos assuntos da terra. Assim, quando se diz que a memória dos que morreram jaz no esquecimento, refere-se ao espírito não ter mais acesso a nós. No que chamamos de estado intermediário, o espírito não tem mais nada a ver com os assuntos debaixo do sol. Mas nada se diz de ele planejar voltar numa reencarnação. No além, ou no mundo dos mortos [sheol, no hebraico], não há projetos, conhecimento, nem sabedoria alguma, no que se refere aos assuntos humanos. Claro que o Espírito tem memória, raciocina, tem consciência de si mesmo, mas não tem mais contato algum com tudo que está debaixo do sol. Ele não projeta, ou planeja, renascer aqui. Jesus nos mostra isso na parábola do Rico e do Lázaro, quando ambos morrem e têm destinos diferentes. O Espírito do Rico, em tormentos, suplica a Abrãao que envie alguém dentre os mortos para alertar seus familiares (do Rico) para que se arrependam. Abraão, que jamais havia reencarnado, pois continuava como Abraão, e há mais tempo no mundo dos mortos (hades, em grego) responde ao recém-chegado Rico qual seria a única forma de um espírito voltar para a terra. Observe:
“Mas ele insistiu: Não, pai Abraão; se alguém dentre os mortos for ter com eles, arrepender-se-ão. Abraão, porém, lhe respondeu: Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos.” – Lucas 16:30, 31.
Então, afirmar que o Espírito perde a consciência ao nascer aqui na terra, mas quando a criança respira ele recobra a consciência de si mesmo, mas se esquece da sua vida passada – tudo isso nada mais é do que pura estória de ficção. Para um espírito vir aqui, segundo a Bíblia, e as próprias palavras de Jesus, nessa parábola, baseada evidentemente em fatos reais, só através da ressurreição. Nem nascer aqui se menciona! Fala-se ressurreição.
Os espíritas deveriam se preocupar mais em ensinar seus adeptos a se arrependeram e buscarem a Jesus como seu Salvador e, portanto, perdoador, enquanto estão vivos. A morte de Jesus é um milagre, pois ela faz por quem O aceita em seu coração o que nem um milhão de reencarnações seria capaz de fazer – salvar o pecador.
Quanto ao “esquecimento”, ou se preferir “amnésia espiritual”, uma técnica muito interessante de evitar a busca de provas mais concretas, fazendo o leigo aceitar e pronto, dizemos que não estamos interessados em fábulas como essas. Fazemos nossas as palavras de Pedro:
“Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade.” – 2 Pedro 1:16.
Todavia, assim como Satanás usou as escrituras para tentar o absurdo dos absurdos – desencaminhar o Deus encarnado, Jesus Cristo – ele tem usado a mesma tática através de seus médiuns espíritas para provar mediante as Escrituras que o Espírito, ao reencarnar, perde a lembrança de vidas passadas. Usam o caso de Jesus. Os espíritas nos perguntam:
“Jesus, enquanto na terra, tinha o mesmo grau de conhecimento que possuía antes de vir à terra? Não diz a Bíblia sobre o menino Jesus que ele “crescia e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria”? (Lucas 2:40) Não prova isso que ele deixou de conhecer o que sabia, enquanto espírito, e precisou aprender tudo de novo, numa nova existência?”
Essa argumentação é errônea porque a Bíblia ensina que Jesus é Deus, e sendo Deus, era eternamente pré-existente. A Bíblia, a quem os espíritas buscam desesperadamente provas para suas alucinações, não ensina que nós somos pré-existentes. Os espíritas não crêem que Jesus era Deus, mas apenas um espírito criado como outro qualquer, porém mais evoluído do que todos os que aqui vieram. Então, desconhecem as duas naturezas de Jesus:
Perfeitamente Deus (João 20:28) e perfeitamente homem (1 Timóteo 2:5). Como homem, Jesus era limitado em saber de todas as coisas, pois afirmou que só o Pai sabia o dia e a hora do fim dos tempos (Mateus 24:36), mas como Deus ele sabia de todas as coisas, fato este reconhecido pelos discípulos de Jesus durante a sua vida na terra (João 16:30) e depois de sua ressurreição (João 21:17) E o próprio Jesus mostrou que, como Deus, lembrava-se da glória que teve junto ao Pai antes de haver mundo. (João 17:1-5) Por fim, usar o exemplo de Jesus como tentativa de provar que nosso espírito se esquece das vidas passadas é uma afronta ao Cristianismo. Uma heresia.
Conclusão
Os Espíritas precisam saber das verdades bíblicas sobre o que ocorre quando morremos. Infelizmente, poucos entre nós estudam o que a Bíblia ensina sobre isso. Falta de tempo não é, porque Deus não é mentiroso em afirmar que para tudo há um tempo. (Eclesiastes 3:1) O que precisamos é usar nosso tempo seletivamente para nos aprofundarmos em assuntos espirituais, e nos capacitarmos para evangelizarmos os em escuridão espiritual. Embora nos reportamos aos irmãos em Cristo, aqui, com palavras de ousadia e corajosas sobre a crença espírita, devemos raciocinar com eles de forma compreensiva e amorosa, sem zombaria. Precisamos entender que eles são vítimas de um falso-deus, chamado Satanás, o diabo (2 Coríntios 4:4), que tenta promover uma crença que, se fosse verdadeira, reduziria a nada o sacrifício de Jesus por nós, visto que a doutrina da reencarnação apregoa a salvação por méritos próprios através de sucessivas reencarnações, e não pela morte sacrificial de Jesus.