Entrevista: Raphael Israeli, especialista em islamismo
“O islã vai explodir no rosto do Ocidente”, alerta Raphael Israeli, professor de Política do Oriente Médio e Islamismo na Universidade de Jerusalém, muitas vezes convidado pelos meios de comunicação para falar sobre o conflito árabe-israelense. Israeli já escreveu 15 livros, entre eles Man of Deficiance (a biografia do ex-presidente egípcio Anuar el Sadat), Peace in the Eye of the Beholder e Islamic Fundamentalism in Israel. Mais três livros seus serão publicados em breve.
Pergunta: Professor Israeli, qual é a causa do terrorismo islâmico: a existência do Estado judeu ou o conteúdo do Corão?
Prof. Israeli: Em primeiro lugar, é o texto do Corão, pois este já existe há séculos, mas nos tempos modernos o [restabelecimento] do Estado de Israel também contribuiu para aumentar o perigo do islã fundamentalista. O que incomoda os muçulmanos no momento é o “ataque” do Ocidente ao islã. Não importa quanto os EUA elogiem o islã e abasteçam os muçulmanos com alimentos, para eles os Estados Unidos são e continuarão sendo “o inimigo”. Diariamente vemos manifestações anti-americanas nos países árabes e nos territórios palestinos.
Pergunta: Portanto, o povo muçulmano determina essa tendência?
“O islã vai explodir no rosto do Ocidente”,
alerta Raphael Israeli
Prof. Israeli: Estou preparando um novo livro sobre o terrorismo islâmico e nele descrevo as novas determinações dos eruditos muçulmanos, que não são da corrente extremista, mas fazem parte da ala islâmica principal, a azhar. Atualmente também eles mobilizam o mundo islâmico contra os Estados Unidos porque os EUA atacam os muçulmanos. Conforme o Corão, nenhum islamita pode lutar contra outros muçulmanos ou fazer alguma aliança com não-muçulmanos que seja voltada contra muçulmanos.
Pergunta: Talvez não estejamos entendendo o islã adequadamente?
Prof. Israeli: A terminologia é o grande problema. Nós e os muçulmanos usamos as mesmas palavras, mas com significados distintos. Na opinião deles, cada um que ataca um muçulmano é um terrorista. O terrorismo é descrito pelos muçulmanos de maneira diferente do que se faz no Ocidente, que considera terrorista quem tenta alcançar alvos políticos usando de violência contra civis e pessoas inocentes. Enquanto isso, o terrorismo islâmico contra os Estados Unidos ou Israel é considerado pelos muçulmanos como defesa contra a agressão americana e israelense. Eles pensam que apenas eles têm o direito à defesa, mas não os Estados Unidos ou nós. A isso os muçulmanos chamam de “jihad” (“guerra santa”), para semear o medo no coração de seus inimigos, pois, para eles, Israel e os Estados Unidos são inimigos de Alá. Os muçulmanos consideram os ataques a Nova Iorque ou ao restaurante Sbarro em Jerusalém como guerra santa contra os terroristas ocidentais.
Pergunta: É possível explicar a “jihad” como um esforço inofensivo?
Prof. Israeli: Não, a “jihad” é uma guerra. No início do século XX, altos líderes religiosos muçulmanos tentaram redefinir a “jihad”, espiritualizando-a e buscando apresentá-la como sendo apenas uma missão pacífica destinada a converter o mundo ao islamismo. Entretanto, a “jihad” é uma ferramenta dos muçulmanos para difundir o islã pelo mundo [através de todos os meios, inclusive a violência]. Isso foi assim no início, prosseguiu na Idade Média e continua acontecendo até hoje. Os muçulmanos declararam a “guerra santa” contra os Estados Unidos da mesma forma como a deflagraram contra nós.
Pergunta: Mas atualmente, quem determina o tom, os muçulmanos extremistas ou os moderados?
Prof. Israeli: O islã fundamentalista não criou um novo islamismo. Só existe um único islã e os muçulmanos moderados acreditam nas mesmas coisas que os extremistas, só que os moderados ainda não põem em prática as idéias muçulmanas. O Egito, por exemplo, é hoje dependente dos Estados Unidos. Por que esse país, que recebe anualmente dois bilhões de dólares dos EUA, iria lutar contra os Estados Unidos? Mas no momento em que estourar uma guerra global contra os muçulmanos, o Egito vai combater o inimigo lado a lado com os demais muçulmanos.
Pergunta: No Ocidente tenta-se diferenciar entre terrorismo palestino e terrorismo islâmico. Isso tem sentido?
Prof. Israeli: Como já disse, o islã afirma que os muçulmanos podem travar uma “jihad” legítima e que tudo que os inimigos fazem contra os muçulmanos é terrorismo. O Ocidente também sabe disso, e tem consciência de que as ações que Israel realiza nos territórios palestinos são mais humanas que os ataques aéreos no Afeganistão. Mas, mesmo assim, somos criticados quando alvejamos de forma seletiva a conhecidos líderes terroristas palestinos e não agimos como os seus homens-bomba suicidas, que mandam para os ares restaurantes e ônibus [cheios de civis]. O Ocidente é hipócrita, pois tenta agradar ao islã.
Pergunta: Os Estados Unidos estão realmente combatendo o terrorismo?
Prof. Israeli: Os americanos acreditam que estão combatendo o terrorismo, mas eles o fazem de maneira pior que nós. Donald Rumsfeld, o secretário da Defesa norte-americano, disse: “Para combater o terrorismo é preciso procurar os terroristas onde eles se encontram, no Afeganistão”. Nós fazemos o mesmo nos territórios palestinos, mas somos criticados. Porém, não vai demorar muito até os americanos perceberem que não terão mais parceiros de coalizão quando partirem para a segunda etapa, quando começarem a combater o terrorismo no Iraque, na Síria e em outros países árabes.
Pergunta: Até que ponto os governos árabes estão envolvidos com o terrorismo islâmico?
Prof. Israeli: Isso varia. Eu gostaria de lembrar aos leitores como o presidente egípcio Mubarak mentiu ao presidente americano Ronald Reagan em 1985, negando que o terrorista responsável pelo seqüestro do navio “Achille Lauro” se encontrava em seu território. A Arábia Saudita é o parceiro árabe mais próximo dos Estados Unidos, mas mesmo assim transfere anualmente mais de 100 milhões de dólares para os terroristas do Hamas. É óbvio que os Estados Unidos sabem disso, mas mesmo assim Washington não toma nenhuma iniciativa contra a Arábia Saudita, apesar do Hamas se encontrar na lista das organizações terroristas que os Estados Unidos condenam. O governo Bush não anunciou que vai castigar os governos que apóiam o terrorismo islâmico? Mas os Estados Unidos não podem se permitir uma guerra contra todo o mundo islâmico, e pelo fato de Washington e o Ocidente praticarem uma política de concessões em relação aos muçulmanos, jamais irão se livrar do terrorismo.
Pergunta: Em outras palavras: o mundo tornou-se impotente contra o terrorismo?
Prof. Israeli: O islã exerce pressão sobre o mundo e o mundo faz pressão contra Israel. O Ocidente cede ao islã por motivos políticos ou econômicos, por exemplo, para agradar às minorias muçulmanas que têm crescido muito em diversos países (quase 10 milhões nos Estados Unidos, 5 milhões na França, 3 milhões na Alemanha e 2 milhões na Inglaterra).
Pergunta: Mas a Europa não reconhece o perigo que o islã representa?
Prof. Israeli: Os governos europeus têm medo dos muçulmanos, mas jamais o confessarão. Na década de 80 a França foi alvo de diversos ataques terroristas e o governo pagou aos terroristas para acabar com os atentados na França. É mais barato “comprar” tranqüilidade do que entrar em guerra contra o islã.
Pergunta: O movimento islâmico em Israel representa um perigo real para o futuro do país?
Prof. Israeli: Há 20 anos atrás eu já alertava sobre o perigo do movimento islâmico em Israel, e há nove anos escrevi um livro sobre a ameaça do fundamentalismo islâmico em nosso país. Meus prognósticos estavam corretos, e foram corroborados até pelo serviço de segurança Shin Bet. Mas que valor tem isso se, por razões políticas, o governo israelense não pode agir como deveria contra os muçulmanos fanáticos? Os árabes israelenses tornar-se-ão um grande perigo para Israel no futuro. (nai – http://www.Beth-Shalom.com.br).
Veja o vídeo – um comentário sobre o 11 de Setembro de 2001:
Publicado anteriormente na revista Notícias de Israel, janeiro de 2002.