15 Milhões de Adventistas…, mas quem está contando?

O número de membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia de Camelback, in Phoenix, Arizona, EUA, alcança um respeitável número de 1.000. Mas uma contagem dos que se assentam nos bancos da Igreja durante a semana revela uma média de 350 a 400 membros por sábado.

O pastor titular da Igreja, Charles White, admite que o rol de membros não tem sido atualizado há 15 anos. “Há muita madeira morta nos livros”, ele diz.

Os oficiais da Igreja dizem ser comum que somente 30 a 50 por cento dos membros de uma igreja assistam regularmente aos cultos.

Em outubro passado, o Escritório de Arquivos e Estatísticas da Igreja relatou que havia quase 14,4 milhões de membros batizados na Igreja Adventista por todo o mundo.

A Igreja estima que esse número atingiu os 15 milhões no ano passado, um número que o diretor do referido escritório, Bert Haloviak, diz ser “bem preciso”.

Não só em 2.000, quando a despeito de relatórios luminosos de crescimento mundial da Igreja por todo o mundo, os oficiais denominacionais suspeitavam que os livros poderiam não estar refletindo dados corretos.

“Havíamos relaxado com auditorias de membresia por muitos e muitos anos”, declara Matthew A. Bediako, secretário mundial da Igreja. “Espera-se que os relatórios dos secretários sejam exatos, mas quando examinamos mais detidamente, descobrimos estatísticas sem fundamento”. 
G.T. Ng, secretário associado da Igreja a nível mundial, crê que a Igreja é moralmente obrigada a relatar precisamente a sua membresia. “Se a membresia está inflacionada, a quem estamos enganando? A nós mesmos?” 

Remontando a 2.000, Ng trabalhava como secretário para a Igreja na região da Ásia Meridional-Pacifico, uma área que na época era afetada por coleta muito imprecisa de dados estatísticos. Ele achou boa a iniciativa da sede denominacional mundial por auditorias abrangentes de membresia das 13 regiões mundiais da Igreja um “processo penoso e duro”, recorda Haloviak.

O pastor se lembra do apelo da liderança aos secretários regionais “Por favor, não nos apresentem mais mentiras; dêem-nos números realistas e honestos”. 

Hendrik Sumendap, secretário para a região da Ásia Meridional-Pacífico declara que as auditorias ali resultaram numa perda “muito desanimadora” de 300.000 pessoas.

Em 2002, Haloviak diz que tais resultados começaram a aparecer nos relatórios estatísticos da Igreja, descontando o índice anual de crescimento da Igreja, que caiu de 5,42% em 2001 para 3,32% no ano passado.

Relatórios iniciais de 2.007, contudo, indicam um aumento para 4,98% do índice de crescimento.

Sete anos após a importante ênfase em auditoria de membresia, Haloviak diz que algumas regiões ainda não têm cooperado, afetando a recente publicidade de índices de crescimento. “Se considerarmos esses dados, parecerá por demais óbvio que seus números estão fora de compasso”, declara Haloviak. “Está claro que quando os secretários de algumas dessas regiões são solicitados a empreenderem auditorias, isso simplesmente é desconsiderado”.

Cada um dos secretários regionais devem submeter atualizações trimestrais para a sede denominacional. Esses relatórios dão conta dos batismos, transferência de membros, mortes, membros desaparecidos ou perdas. Kathleen Jones, que lida com estatísticas gerais para a Igreja a nível mundial, diz que os números não são sempre exatos. “Às vezes as colunas nem chegam a somar”,declara. Em outros casos, associações inteiras deixam de relatar qualquer coisa por um trimestre inteiro, em alguns casos devido a falta de pessoal.

Jones diz que desejaria que a Igreja oferecesse mais incentivos para obter maior cooperação.

Estatísticos denominacionais estimam que pelo menos 10 pessoas morram para cada grupo de 1.000, cada ano. Quando um secretário regional relatou 0,6 mortes alguns anos atrás, Haloviak se lembra que a desculpa que o secretário deu para tal estatística tão desconexa foi: “Oh, ele não morreu; apenas teve uma dor de cabeça realmente séria'”. 

O pastor Ng secretário associado da Igreja a nível mundial acredita que as Igrejas individualmente devem “limpar os livros” numa base anual, como recomendado pelo Manual da Igreja. Mas decidir quando remover um membro inativo dos registros é torturante, ele admite. “O propósito das auditorias é redimir, não cortar pessoas”. Harold Wollan, secretário para a região Trans-Européia da Igreja, concorda. “Não incentivamos apenas eliminar membros por não aparecerem [no sábado de manhã]”.

O secretário associado da Igreja a nível mundial se preocupa que algumas igrejas, esperando acelerar o processo de auditoria, num só golpe remova todos os membros inativos ou desaparecidos de seus registros. “Não existem atalhos para uma auditoria apropriada”, declara ele.

Na América do Norte, 54 das 58 associações regionais, usam um programa de computador seguro, chamado eAdventist, implementado em 2003 para estabelecer registros precisos. Pessoas responsáveis na congregação podem dar entrada a votos por membresia eletronicamente, substituindo os tradicionais registros de papel, declara Nancy Lamoreaux, diretora de Serviços de Tecnologia da Informação para a América do Norte. Sherri Ingram-Hudgins, analista programadora do eAdventist, diz que o papel de tal programa limita-se a registrar votos tomados a nível de igreja local.

O secretário denominacional Cheryl Oberlick diz que quando os anciãos visitam membros ausentes, raramente obtêm uma recepção positiva. “Como via de regra temos encontrado pessoas que preferem não serem contactadas”, declara Oberlick. “Se houver qualquer contato, desejam que eles o iniciem”.

White concorda que os esforços para manter dados atualizados da membresia da Igreja são importantes, mas estão longe de representar uma prioridade. “É uma questão de administração de tempo, pois preferimos colocar nossos membros ativos em atividade no ministério e pequenos grupos”, diz ele.

Às vezes, contudo, diz Ng, os registros imprecisos são assim deixados deliberadamente. “Posso pensar em situações em que a administração local disse a uma congregação, ‘Não ousem fazer uma auditoria de número de membros'”. Ng diz que ele pode entender a motivação: quando a membresia cai, o pastor pode parecer ter falhado. E, ele adiciona, por causa de representação em posições eletivas na Igreja ter por base o número de membros, nenhum pastor ou associação deseja reduzir as suas chances de eleição.

Ng e outros oficiais da Igreja têm feito observar que quando os líderes consideram detidamente os dados sobre membresia, ajudam a assegurar a credibilidade da Igreja.

Secretários regionais, tais como Barry Oliver, que trabalha na região eclesiástica do Pacífico Sul, também relatam que as auditorias resultam numa dramática mudança no enfoque da Igreja: de promover mais e mais índices batismais para a devida alimentação e retenção de membros ativos. Ng concorda: “Batismos são importantes, mas quando consideramos a Bíblia, vemos que a meta não é só batizar, mas fazer discípulos”. Se a Igreja mais diligentemente praticar “evangelismo responsável”, diz ele, a necessidade de auditorias de membresia diminuirá significativamente.

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